Esse é um espaço, para nos levar a refletir sobre autoconhecimento e autotransformação. Autoconhecer-se é descobrir suas forças e suas fraquezas e viver bem com isso. Estar em paz com quem você realmente implica em uma existência pacífica consigo mesmo e seus semelhantes.
07/03/2023
Normose: o que é ser normal, afinal?
Normose
Mas o que é isso?
Normose é a patologia da normalidade. Sim, isso mesmo.
Pensamos sobre o que é ser uma pessoa normal e, posso dizer, que estamos intimamente sempre nos medindo de acordo com essa fita da normalidade que buscamos apreender das relações, pelo olhar e aprovação do outro.
O normal é o mais frequentado socialmente, são os padrões de comportamentos esperados, os sentimentos esperados… Enfim, é um parâmetro externo, aprendido de fora para dentro, que nunca foi questionado e que pode ter bases inconscientes profundas.
Você e eu fomos programados culturalmente para não pensar por si mesmo.
Não questionar, mas seguir o que foi imposto pelo meio. Afinal, “a vida é assim mesmo”.
Seu corpo foi dissociado de sua mente, tendo a mente (que nunca foi sua de verdade, mas das autoridades culturais) predomínio sobre o corpo (reduzido a simples aglomerado de carne e gordura, inconveniente pelas sensações que produz e pelo peso que é capaz de acumular).
Você, que é natureza, foi trancafiado dentro de um bloco de concreto, e ensinado a sentir medo do outro, medo da natureza, medo de si mesmo e assim, passou a não se perceber mais como natureza.
Você foi ensinado a ganhar dinheiro, sem se perguntar para quê, como, a troco de quê.
Te ensinaram que homem para ser homem tem que fazer assim e mulher tem que ser daquele jeito.
Você não foi encorajado a olhar para dentro de si mesmo e valorizar a verdade que falava lá no fundo. Não foi ensinado a prestar atenção nos seus sentimentos, sensações e intuições.
Apenas o intelectual foi valorizado e incentivado, mas, é claro, desde que respondesse aos interesses externos. E assim, nos tornamos normóticos, robóticos e programados.
Nosso objetivo não é existir plenamente, e sim, nos tornarmos iguais aos outros, normais. Faz sentido para você?
Esse fenômeno é social.
Não adianta culpar os pais e avós, pois eles também estavam imersos nessa ideologia da normalidade e fizeram o melhor que puderam.
Você está tendo uma nova oportunidade de mudança lendo esse artigo. Então:
Como se tornar quem se é?
Mas como se tornar quem se é dentro de uma família normótica, de um trabalho em uma instituição normótica, sendo aluno de uma escola normótica, de uma sociedade normótica?
Pois bem… Esse é o desafio. Roberto Crema nos alerta:
“Portanto, se nossa família humana se extinguir, se o barco onde todos estamos afundar, não terá sido pelos psicóticos nem pelos neuróticos, mas pelos normóticos que fomos!
O grande perigo atual, a grande ameaça global se chama normose.
Precisamos de pessoas esquisitas […]”.
(WEIL, P; LELOUP, JY; CREMA, R. Normose, a patologia da normalidade. 4.ed. – Petrópolis, RJ:
Vozes, 2013, p.34.)
Essa questão me faz lembrar do pensamento de Friedrich Nietzsche de que a humanidade estaria se encaminhando para a formação de dois homens:
O último humano;
O além-humano.
O primeiro, completamente alienado de si mesmo, normótico, assiste sua vida passar enquanto se distrai dela. E o segundo, o além-humano, faz da sua vida uma obra de arte, realizando seu potencial.
A civilização não resistirá ao último humano, de acordo com o filósofo.
“Que é amor? Que é criação? Que é nostalgia? Que é estrela?
— Assim pergunta o último homem, e pisca os olhos.
A Terra se tornou pequena, então, e sobre ela saltita o último homem, que torna tudo pequeno.
Sua estirpe é indestrutível, como a pulga; o último homem é o que vive mais tempo.
Nós inventamos a felicidade — dizem os últimos homens, e piscam os olhos.
Nenhum pastor e um só rebanho! Todos querem o mesmo, todos são iguais.
Quem sente de outra maneira vai voluntariamente para o hospício.
Temos nosso prazerzinho para o dia e nosso prazerzinho para a noite, mas prezamos a saúde.
Nós inventamos a felicidade, dizem os últimos homens, e piscam os olhos.”
(Nietzsche, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Prólogo; em KSA. Vol.4, 1994, p19.)
Entendo que perceber a própria normose (ou melhor, as normoses) já seja um passo bastante importante para encontrar uma forma de superá-la.
Raquel Supra
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário