Para o mundo que eu quero descer!

Você já teve vontade de gritar essa frase quando sente que estamos vivendo numa época de eterno conflito? Tem conflito para tudo: raça, geração, gênero, político, interesse, opinião! É como se tivéssemos voltado ao antigo Império Romano. As redes sociais, as salas de reunião, de aula ou de jantar são o Coliseu. As pessoas nesses espaços são os gladiadores, lutando entre si com um único objetivo: impor sua verdade absoluta. A ordem do dia é falar ou digitar, mesmo que o outro não tenha concluído seu raciocínio! Quantas vezes fingimos escutar esperando unicamente o momento adequado para falar, responder, argumentar, repetindo as palavras do outro a nosso favor? Perde-se o foco do objetivo final, do bem maior e a única coisa que se vê é o outro como inimigo. Desta forma, alimentamos a intolerância, a frustração desnecessária, a imaturidade, o ódio. Atrasamos a evolução da humanidade, sufocamos a curiosidade e a criatividade. É uma dicotomia onde, ao mesmo tempo em que vemos egos inflados ao nos aproximarmos, é nítido o vazio profundo que esses “gladiadores” carregam. Nessa "arena" o nosso sistema emocional é rapidamente recrutado e nos prepara para corrermos ou lutarmos. É um desperdício de recursos, pois, como seres humanos, somos capazes de opções muito mais inteligentes. Te convido agora a imaginar um mundo onde as pessoas tivessem a profunda consciência do impacto de escutar com o coração aberto e assim captar o que o outro quer comunicar! O que seria diferente do que vivemos hoje? Entenderíamos que uma boa oratória precede uma excelente escutatória e curadoria. Isso poderia reduzir drasticamente a maioria dos problemas, como divórcios, demissões, estresse, depressões, desentendimentos, que são consequências de comunicações ineficazes. Ouvir é a capacidade auditiva de captar os sons. Escutar é transformar os sons captados em algo relevante, e requer silenciar o ego, os pensamentos, os preconceitos, os julgamentos. É realmente se importar com o outro. Enquanto escutamos, nossos pensamentos e emoções competem com as palavras ditas e emoções expressadas pelo outro. É muita coisa disputando nossa atenção, o que reduz nossa capacidade de absorver a real mensagem. Sem contar a infinidade de distrações externas! Sim, é um desafio! Contudo, uma boa comunicação influencia a maneira como aprendemos, lideramos e nos comportamos na vida pessoal e profissional. É uma opção, tem técnica, é uma habilidade a ser desenvolvida e totalmente possível de se tornar um hábito! Quero concluir com um trecho do texto de Rubem Alves “A Escutatória”. “Ouçamos o humano que habita em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro que dá sentido e é a razão do nosso existir, sem o qual não somos e jamais seremos humanos na expressão da palavra.” Como está a sua escutatória? O que você está construindo com o que escuta das pessoas a sua volta? Arlete Amoroso