25/11/2024

Poesia: Essa mendiga


Essa mendiga que passa

Vestida de trapo ao vento

De rosto cansado e atento

Aos óbolos que lhe dão

Quem sabe por que te busca

Na dorida caminhada

Para deter-se humilhada

Pedindo socorro e pão?

Não digas: “mulher da rua”

Nem penses “mulher sem jeito”

Guarda silêncio e respeito

Se nada tens para dar

Que essa pobre, onde aparece

Tem a tristeza por guia

Por refúgio, a noite fria

E, às vezes, o chão por lar.

Ao recebê-la, medita

Em tua mãe viva ou morta

Jamais lhe cerres a porta

Nem lhe indagues de onde vêm

Dá-lhe um momento de apoio

À marcha triste e insegura

Em meio da desventura

Talvez seja mãe também.

Recorda a infância risonha

Em tua casa florida

As horas plenas da vida

A mesa farta ao dispor

As doces lições da escola

Entre o recreio e a merenda

A bola, a peteca, a prenda

Nos brincos de puro amor!

Lembra a ternura materna

Como estrela, em toda parte

Teu pai chegando a beijar-te

Aos meigos abraços teus

Durante o dia, os folguedos

Que a segurança entretece

De noite, a benção da prece

E o sono pensando em Deus.

Reconsidera contigo

Que essa mulher, entretanto

Nasceu num berço de pranto

E de pranto vive assim

Cresceu, rogando na rua

O pranto da vida amarga

Sem que lhe visses a carga

De mágoas quase sem fim.

Acolhe-a com caridade

Restaura-lhe a força e dize

A frase que amenize

O peso da própria cruz

Deus te manda essa mendiga

A fim de saber, ao certo

Se estás mais longe ou mais perto

Da redenção com Jesus.

Irene S. Pinto

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