07/08/2023

O PAR DE MEIAS



Me responda uma coisa: quantos pares de meias tem na sua gaveta com exatidão? Não vale ir contar, tem que responder de prontidão. Acho que não sabe, né? Eu lhe entendo, também não sei quantos eu tenho.

Talvez a gente não saiba porque não achamos que tenha relevância na nossa vida um par de meias. Até que chega um dia frio, uma noite chuvosa, e, inevitavelmente, sentimos os pés gelados e vamos correndo na direção daquela gaveta buscar uma meia para aquecer nossos pés.

É curioso perceber essa nossa mania de só dar valor ao que não temos. Enquanto não sentimos frio os nossos pares de meia não tinham nenhuma importância para nós, porém, quando a temperatura caiu e surgiu a necessidade de nos aquecermos, automaticamente lembramos deles e corremos para buscá-los.

Então, vestimos nossos pés com um par de meias fofinho, limpo, cheiroso e atendemos a nossa necessidade de aquecimento do corpo.

Agora, gostaria de lhe pedir para imaginar se nessa situação que descrevemos, ao abrir suas gavetas tivesse as encontrados vazias, não havia nenhuma meia lá dentro nada de nada. O que faria? Talvez tenha pensado assim: “Ah Carol, eu ia pegar um cobertor e me cobrir por inteiro.” – provavelmente eu também faria o mesmo. Mas, consegue perceber o privilégio dessa alternativa? Você e eu tivemos opções para contornar a falta das meias e a sensação de frio, nós tivemos escolhas. Entretanto, tem muitas pessoas pelo mundo que não tem nem uma opção se quer.

Pense nos refugiados da Síria, vindos pelo mar, fugindo de seu país, amontoados em botes ou barcos sem a menor infraestrutura são crianças, idosos, mulheres, homens, jovens que fogem da guerra. Eles enfrentam chuva, vento e frio durante a viagem, quando dão a sorte de não perderem suas vidas na trajetória e conseguem atracar em terra firme, uma nova batalha começa: a de ser aceito em um novo país. E nos campos de refugiados, em grande parte deles, acabam passando dias e noites a mercê da chuva, do frio rigoroso do inverno europeu e muitos se quer possuem sapatos, o que dirá um par de meia quentinho em seus pés.

Pense também nas pessoas que moram na África e morrem de fome, sede, pragas e guerras diariamente. Não precisa nem ir tão longe, basta lembrar dos moradores de rua do seu bairro, que estão dormindo debaixo das marquises, vulneráveis a todo tipo de maldade que enfrentam na crueldade das ruas e que lá tentam se proteger daquele temporal que por tantas vezes caí lá fora, enquanto você está protegido em seu lar e aquecido por seu par de meias.

O meu objetivo com esse texto é despertar em você a percepção de que todos os dias, somos agraciados com pequenos-grandes-milagres: como ter um par de meia para nos aquecer em tempos frios. No mundo em que vivemos, onde a maldade, a crueldade, a desigualdade e a injustiça crescem dia após dia, ter água para saciar nossa sede, lavar nossos corpos, limpar nossa casa, ter um cobertor para nos aquecer, ter um pão duro para fazer torradas e lanchar com um café fresquinho a tarde, ter um lar que nos abriga e protege contra as intempéries do mundo tudo isso pode passar despercebido por nós. Portanto, quero despertar em você a noção das vitórias diárias de cada dia que temos em nossas mãos.

Precisamos saber enxergar esses pequenos milagres e, principalmente, aprender a ter gratidão por cada um deles.

Observe sua vida, reconheça as pequenas vitórias diárias, desperte a gratidão e evolua como ser humano. Esse mundo só se tornará um lugar melhor, quando começar a ser habitado por pessoas melhores, portanto, comece por você.

Carolina Souza

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