Não é raro imaginarmos a bruxa como uma mulher mais velha, dotada de um grande e enverrugado nariz, trajando roupas surradas e chapéu pontudo, ao lado de seu gato preto e seu caldeirão e, inevitavelmente, ligada à maldade. Mas, afinal, de onde vem essa peculiar figura? Será que toda bruxa se assemelha à que você pensou? Talvez você se surpreenda em saber que as bruxas existiram, sim, no mundo real. Mas elas não eram exatamente como descrevemos.
Para a população camponesa europeia da Idade Média, as mulheres reconhecidas como ‘bruxas’ eram membros fundamentais da comunidade. Elas eram normalmente mais velhas, acumulavam muitos anos de experiência e dominavam os saberes necessários para lidar com a vida e a morte: a dose correta para curar uma doença, o procedimento preciso na hora do parto, as plantas capazes de promover abortos, as ervas que causavam alívio durante o falecimento. Como define o historiador francês Jules Michelet (1798-1874): “A ela se pede a vida, a morte, remédios, venenos”.
É justamente daí que vem a imagem da bruxa como uma idosa, tendo o caldeirão como companheiro inseparável (onde se misturavam os ingredientes dos seus preparados). Nas suas comunidades, elas não eram vistas como más ou perversas por natureza; eram chamadas de ‘mulheres sábias’ em várias línguas, e participavam ativamente da vida comum. Em alguns casos, cobravam pequenos valores pelos seus feitiços; em outros, apenas os faziam enquanto membro da comunidade que cumpre o seu papel. Seja como for, entre as populações campesinas da Europa, elas eram as médicas, as conselheiras, as guardiãs da vida e da morte.
O livro Wicked: a história não contada das bruxas de Oz, que se tornou um musical premiado da Broadway, nos dá outra versão de O mágico de Oz, pela perspectiva das bruxas (a má e a boa). O ditado “nenhuma boa ação fica sem punição” é usado na catártica música ‘No good deed’ (‘Todo bem tem seu preço’, em português), que reflete toda a frustração de Elphaba (a bruxa verde e ‘má’) de tentar fazer o bem, de ser motivada por boas ações, mas acabar causando consequências negativas e sofrer diversas injustiças. Vale também citar a bruxa Malévola, da Disney, que ganhou dois filmes e teve a chance de contar sua história e ser mais bem compreendida.
Mesmo assim, a imagem de bruxa perversa ainda é tão forte que, se uma criança vai a uma festa fantasiada de Glinda (a bruxa boa de O mágico de Oz), ela certamente será confundida com uma fada ou princesa.
O que podemos perceber com isso é que a imagem que temos das bruxas são construções que surgiram com o único intuito de manter uma estrutura de poder que subjuga o feminino e mantém a supremacia do masculino. São resquícios de uma criminalização institucionalizada da mulher livre, sábia e dona do próprio caminho.
Apesar da mudança na imagem das bruxas, suas versões coexistem, se relacionam e se retroalimentam. E, ao longo dos anos, as bruxas também mudaram. Essas mulheres que faziam o mundo acontecer desde a aurora da humanidade hoje estão espalhadas por todas as áreas do conhecimento da natureza. Se algo se manteve constante, foi a dificuldade do homem de dividir o protagonismo da história e as tentativas perversas de manutenção artificial de sua ‘superioridade moral, intelectual e biológica’.
Fonte: diáriodamagia.com.br
Somos as netas das Bruxas que eles não conseguiram queimar!
ResponderExcluirGostei da colocação
ExcluirGratidão por estar aqui!
Abraço