Esse é um espaço, para nos levar a refletir sobre autoconhecimento e autotransformação. Autoconhecer-se é descobrir suas forças e suas fraquezas e viver bem com isso. Estar em paz com quem você realmente implica em uma existência pacífica consigo mesmo e seus semelhantes.
01/04/2023
Falar–Martha Medeiros
Já fui de esconder o que sentia, E sofri com isso.
Hoje NÃO escondo nada do que sinto e penso, e às vezes também sofro com isso, mas ao menos não compactuo mais com um tipo de SILÊNCIO nocivo: o silêncio que TORTURA o outro, que confunde, o silêncio a fim de manter o poder num relacionamento.
Assisti ao filme "Mentiras sinceras" com uma pontinha de decepção – os comentários haviam sido ótimos, porém a contenção inglesa do filme me irritou um pouco – mas, nos momentos finais, uma cena aparentemente simples redimiu minha FRUSTAÇÃO.
Embaixo de um guarda-chuva, numa noite fria e molhada, um homem diz para uma mulher o que ela sempre precisou ouvir. E eu pensei:
"como é fácil libertar uma pessoa de seus fantasmas e, libertando-a, abrir uma possibilidade de tê-la de volta, mais inteira. "
Falar o que se sente é considerado uma FRAQUEZA. Ao sermos absolutamente SINCEROS, a vulnerabilidade se instala. Perde-se o mistério que nos veste tão bem, ficamos nus.
E não é este tipo de nudez que nos atrai. Se a verdade pode parecer PERTURBADORA para quem fala, é extremamente libertadora para quem ouve. É como se uma mão gigantesca varresse num segundo todas as nossas DÚVIDA. Finalmente se sabe.
Mas sabe-se o quê? O que todos nós, no fundo, queremos saber: se somos amados. Tão banal, não?
E no entanto esta banalidade é fomentadora das maiores CARÊNCIAS, de TRAUMAS que nos aleijam, nos paralisam e nos afastam das pessoas que nos são mais caras.
Por que a dificuldade de dizer para alguém o quanto ele é – ou foi – importante? Dizer não como recurso de sedução, mas como um ato de generosidade, dizer sem esperar nada em troca. Dizer, simplesmente.
A maioria das relações – entre amantes, entre pais e filhos, e mesmo entre amigos – ampara-se em MENTIRAS parciais e verdades pela metade.
Pode-se passar anos ao lado de alguém falando coisas inteligentíssimas, citando poemas, esbanjando presença de espírito, sem alcançar a delicadeza de uma declaração genuína e libertadora: dar ao outro uma certeza e, com a certeza, a liberdade.
Parece que só conseguiremos manter as pessoas ao nosso lado se elas não souberem tudo. Ou, ao menos, se não souberem o essencial.
E assim, através da manipulação, a relação passa a ficar doentia, inquieta, frágil. Em vez de uma vida a dois, passa-se a ter uma sobrevida a dois.
Deixar o outro INSEGURO é uma maneira de prendê-lo a nós – e este "a nós" inspira um providencial duplo sentido. Mesmo que ele tente se libertar, estará amarrado aos pontos de interrogação que colecionou.
Somos sádicos e avaros ao economizar nossos "eu te perdoo", "eu te compreendo", "eu te aceito como és" e o nosso mais profundo "eu te amo" – não o "eu te amo" dito às pressas no final de uma ligação telefônica, por força do hábito, e sim o "eu te amo" que significa: "seja feliz da maneira que você escolher, meu sentimento permanecerá o mesmo".
LIBERTAR uma pessoa pode levar menos de um minuto. Oprimi-la é trabalho para uma vida. Mais que as mentiras, o silêncio é que é a verdadeira arma letal das relações humanas.
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Muito reflexivo. Namastê
ResponderExcluirCom certeza! Namastê
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