De tempos em tempos nos deparamos com escândalos nos meios religiosos. Pessoas até então admiradas e idolatradas fazem escolhas ou se comportam de maneira condenável, o que costuma gerar perplexidade, frustrações e revoltas. E muitos ficam a se perguntar o que será da humanidade, porque se até os “homens santos” mostram os seus demônios, o que será dos pobres mortais?

É preciso entender que todo humano possui sua sombra, e quanto mais tente negá-la ou escondê-la, especialmente sob uma pretensa “santidade”, mais densa ela se mostrará em algum momento. Nesse sentido, o comportamento alienado por parte das pessoas que buscam as religiões termina alimentando essa sombra, quando não apresentam um olhar crítico, tanto daquilo que é apresentado como “Verdade” como das pessoas que se apresentam como representantes da divindade, como se isso fosse possível.

Ademais, verificamos normalmente estruturas rígidas de poder, em que normalmente é negado o acesso das mulheres aos cargos “mais importantes” e de projeção. As religiões do patriarcado carregam consigo a sombra do feminino negado e rejeitado, o que alimenta ainda mais todo um contexto de violências e abusos, próprios do mundo masculino. Fora isso, a “castidade e o celibatário” exigidos ou recomendados faz com que a sexualidade negada alimente ainda mais a sombra, que tem povoado as páginas dos periódicos com escândalos dentro dos templos religiosos.

O caminho para “Deus”, seja qual nome se lhe dê, passa pela via do encontro interior do ser humano consigo mesmo, e que nenhum intermediário poderá promover. A religiosidade, essa capacidade e habilidade humana de se adentrar pelos mistérios da existência, não pode ser transferida a terceiros, que enquanto humanos são tão falíveis como nós mesmos.

Por isso é preciso atentar às observações de Jung, que apontam que o caminho de encontro com a luz passa pelo conhecimento da própria Sombra. Não se trata de negar o valor das religiões e de religiosos, mas compreender a limitação desses no caminho que conduz à plenitude. Nosso "Deus interior" é valioso demais para ser "entregue" nas mãos de outras pessoas. 

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