20/05/2025

Psique Planetária: Ecopsicologia, Alteridade e o Retorno ao Animismo


Este artigo propõe uma leitura simbólica e junguiana da ecopsicologia, entendendo a psique como um campo estendido e relacional. A partir de autores como Jung, Hillman, Byington e Roszak, e conceitos como inconsciente do mundo e arquétipo da alteridade, argumenta-se que o mal-estar contemporâneo é resultado da cisão homem-natureza. A superação desta ruptura exige um retorno ao imaginário, à alma do mundo e ao enraizamento simbólico no planeta.

1. Introdução

O sofrimento contemporâneo é, em grande parte, ecológico — tanto no corpo da Terra quanto na alma humana. A ecopsicologia emerge como campo interdisciplinar que busca restaurar o vínculo entre sujeito e natureza, ego e mundo, corpo e cosmos. Na perspectiva junguiana, isso não é apenas uma questão ambiental: é uma questão arquetípica.

2. Inconsciente do Mundo e Arquétipo da Alteridade

Autores como Roszak e Aizenstat estendem o inconsciente coletivo para além da história ancestral: ele é o planeta, o entorno, a paisagem viva. A relação com Gaia é regida por arquétipos primordiais, especialmente o arquétipo da Grande Mãe (natureza) e da Alteridade (diálogo entre polos). Byington (2005) propõe que a consciência se estrutura pela relação ego-outro — e este “outro” pode ser também a Terra.

3. Animismo, Psique e Sustentabilidade Simbólica

Hillman sugere que tudo tem alma — a cidade, a pedra, o rio. Quando a psique deixa de ser entendida como propriedade privada do ego, e passa a ser vista como campo vivo que nos contém, nasce uma ética simbólica: uma espiritualidade do vínculo, uma ecologia da imaginação.

A sustentabilidade, neste modelo, não é apenas ambiental ou econômica, mas simbólica: trata-se de restaurar o laço arquetípico com Gaia e com os outros, humanos e não-humanos, em um gesto de individuação planetária.

4. Conclusão

A cura do planeta começa com o reconhecimento de que o planeta é psique. A ecopsicologia junguiana convida à escuta do mundo como sonho, à visão da natureza como símbolo, e à reintegração do humano no grande corpo simbólico da Terra. Essa é a ética da alteridade: relacional, arquetípica, indivídua.

Ermelinda Ganem- Médica, psicoterapeuta junguiana.

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