Certa vez, Ernesto esqueceu-se de que estava em um local fechado e acendeu um cigarro em pleno corredor da faculdade em que estudava.
Imediatamente, um segurança que estava próximo ao rapaz foi até ele e, de modo firme e assertivo, relembrou-o de que era proibido fumar naquele ambiente.
Ao invés de simplesmente apagar o cigarro e desculpar-se, Ernesto se sentiu ATACADO pelo funcionário.
O jovem sabia que sua conduta fora inapropriada, mas passou o dia inteiro remoendo a lembrança da forma enérgica com que havia sido abordado pelo segurança.
Desde então, Ernesto não perde a oportunidade de criticar a faculdade nas redes sociais e provocar tanto professores quanto outros funcionários da instituição.
A fantasia de ter sofrido um ataque por parte do segurança e não apenas uma repreensão normal fez com que o rapaz passasse a ESPERAR novos ataques.
Assim, por “precaução”, ele começou a ATACAR PRIMEIRO.
Resultado: a faculdade que, até então, era um ambiente amigável e acolhedor para Ernesto, passou a ser vista pelo aluno como um lugar hostil, cheio de pessoas dispostas o tempo todo a prejudicá-lo.
E como, para se defender, ele ataca, no fim das contas acaba sendo alvo de hostilidade mesmo. Afinal, os funcionários da instituição naturalmente vão reagir a tais ataques.
O caso de Ernesto é apenas um dos inúmeros exemplos das perturbações que as fantasias podem provocar na nossa relação com o mundo.
Esse rapaz construiu uma fantasia paranoica, provavelmente baseada em ataques REAIS sofridos na infância.
É como se ele estivesse ativamente procurando reencenar o trauma infantil a despeito do que efetivamente está em jogo na realidade.
Mas não existe só a fantasia paranoica.
Muitas pessoas, por exemplo, estão presas a uma fantasia de rejeição. Por terem sido preteridas ou desconsideradas quando crianças, tendem a tomar qualquer acontecimento insignificante como indício de que estão sendo rejeitadas.
Ao invés de atacarem primeiro — como faz o paranoico Ernesto — elas fazem de tudo para agradarem todo o mundo a fim de não serem rejeitadas.
E assim convertem suas vidas num trágico e eterno sacrifício ao desejo do outro.
A fantasia atrapalha.
Luccas Nápoli
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