06/05/2024

A gente faz Psicanálise para ter coragem de escutar o inconsciente.


Muita gente acredita equivocadamente que o inconsciente é uma espécie de “lixão mental”.

De fato, algumas afirmações de Freud podem sugerir essa ideia de que ele seria tão-somente uma área da mente onde descartamos aquilo que não cheira bem.

Contudo, na maior parte do tempo, o pai da Psicanálise fazia questão de caracterizar o inconsciente como sendo essencialmente… um conjunto de RACIOCÍNIOS.

Sim!

Ao falar, por exemplo, sobre os atos falhos, Freud deixa claro que o que está em jogo são determinados PENSAMENTOS que perturbam a intenção consciente do sujeito.

Ieda planeja mandar uma foto picante para o marido e, quando se dá conta, está abrindo o contato do colega de faculdade.

O que está acontecendo num caso como este?

Entre o pensamento consciente “Vou mandar uma foto picante para meu marido” e o ato de fazer isso se interpôs um SEGUNDO pensamento, INCONSCIENTE, que pode ter sido:

“Na verdade, eu gostaria mesmo era de mandar esta foto para o meu colega.”

Por estar mais carregado afetivamente naquele momento (sabe-se lá por que…), esse segundo pensamento “venceu a batalha” com o primeiro.

Por isso, a moça se enganou e abriu o contato do colega.

Percebe? O inconsciente, na verdade, é o nome que a gente dá em Psicanálise para um conjunto de RACIOCÍNIOS que acontecem em nós à revelia da consciência.

É como se fosse uma segunda mente que opera silenciosamente e de acordo com critérios que passam longe da razão tradicional, da eficiência e do bom senso.

Ainda que tenham sido alguns poucos segundos, Ieda perdeu tempo abrindo o contato do colega do invés de ir direto para a conversa com o marido.

E a coisa poderia ter sido muito pior: imagine se ela não tivesse percebido o equívoco e acabasse mandando a foto para o colega?

— Nossa, Lucas, mas isso é perigoso. Não tem como controlar esse inconsciente, não?

Não. Nós não somos capazes de acolher na consciência todos os pensamentos que atravessam nossa alma.

O máximo que podemos fazer é ter coragem para escutá-los quando se manifestam.

E é para isso que a gente faz Psicanálise.

Lucas Nápoli

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