O Transtorno de Ansiedade por Doença ou TAD, conhecido por Hipocondria, traduz-se numa preocupação excessiva em padecer por uma doença grave. A pessoa que convive com esta angústia emocional, tende a ser hipervigilante em relação a sinais anómalos que o seu corpo apresenta, relaxando somente quando são realizadas avaliações e exames médicos. No entanto, apesar das provas concretas, a sensação de que “algo está errado”, tende a manter-se, levando a uma angústia interna que se transforma em ansiedade. Em algumas situações, este sintoma leva a somatizações como sensação de dor em lugares específicos do corpo, tumefações ou dermatopatologias de causa desconhecida. O poder da mente é de tal forma real que o corpo corresponde aos seus anseios, criando “doenças” (imagina se esse poder fosse usado a favor da saúde).
Este é um problema sério que requer compreensão, sobretudo pós pandemia. O objetivo deste artigo visa desmistificar o preconceito e o julgamento em redor das pessoas que sofrem com TAD ou hipocondria.
TAD é um programa de sobrevivência inconsciente que se ativa em momento de maior stress emocional e psicológico, como mudanças de estilo de vida, perdas ou outro qualquer acontecimento vivido em contrariedade (conflito desencadeante).
A programação inconsciente do TAD tem como objetivo manter uma hipervigilância a qualquer “sensação estranha interna” de modo a evitar qualquer risco de doença e, em último grau, morte. A programação TAD ocorre em situações dramáticas ocorridas no passado que imprimiram no inconsciente uma marca traumática, como por exemplo.
Sobreproteção parental em relação aos cuidados de saúde;
Perda de familiares significativos ou pessoas próximas a si, por doença ou assistência médica insuficiente, durante o período de infância;
Perda de pessoas significativas familiares ou próximos durante o período intra-uterino;
Trauma transgeracional: lutos bloqueados na família de pessoas que faleceram antes do tempo natural como adultos, jovens e/ou crianças, devido a doença, falta ou assistência médica insuficiente.
Interrupções involuntárias ou voluntárias de gravidez devido a risco de vida para a mãe;
Parto de risco para a criança e/ou mãe;
Um jovem de 30 anos, saudável e de porte atlético, cuja base da sua programação vinha de uma sobreproteção materna durante a infância perante questões de saúde, em máxima vigilância.
A questão era: Para quê tanta proteção em relação às doenças, se a criança era saudável?
O tio, irmão mais novo e chegado à mãe, com 20 anos de idade adquiriu uma infecção abdominal devido a um acidente rodoviário, sofrendo uma morte precoce antes sequer do cliente nascer. Por Fidelidade Familiar ao luto bloqueado da mãe, o inconsciente do jovem busca constante vigilância com qualquer sintoma que surja para evitar a repetição da história que marcou todo o tecido emocional da família.
Embora sendo um programa “irracional”, tem sempre um propósito positivo de sobrevivência.
Após consciencialização e aceitação do facto, o cliente relatou que desde essa compreensão, sentiu uma diminuição significativa na ansiedade, em conjunto com o trabalho psicoterapêutico.
Perante este drama ou trauma familiar, o inconsciente move energia e pensamento para garantir a sobrevivência, oferecendo olhos, sensibilidade e sensação corporal, uma atenção elevada para evitar qualquer morte que leve tragédia ao lar. O programa traduz-se num ato de amor na sua forma mais pura e arcaica, promovendo a reconciliação e libertação emocional e psicológica do luto / trauma latente na família.
A falta de compreensão deste mecanismo levam ao julgamento e ao estigma, de outrem ou do próprio.
Se pedirmos a alguém para deixar de respirar porque esse ato incomoda, como se sentiria essa pessoa? Com um TAD há igualmente um programa de sobrevivência, contudo com origens traumáticas na infância e/ou na família. Por esta razão, a nomenclatura médica atual teve a sensibilidade em remover o diagnóstico de “hipocondriaco” para não rotular alguém como “exagerado” ou “paranoico”.O risco iminente da doença é real na mente de quem vive TAD porque essa é a garantia da sua sobrevivência. No momento de ativação é fundamental a pessoa que está ao seu lado oferecer somente a presença, sem julgamento nem reprovação.
Marco Sousa
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