04/03/2024

A SÍNDROME DE EVA


(Se para Eva o paraíso não era suficiente, como satisfazer-se nos dias de hoje)

Eva era bela, sem defeitos em seus traços, perfeita por ser a primeira, mulher de Adão o jardineiro, dele se formou por dádiva Divina e por doação recebeu o paraíso, e que paraíso, lagos e rios caudalosos a beira da flora pura e virgem, arvores multiformes cuja diversidade dos frutos nunca provados não saciaria décadas de deleites, apenas um mandamento, “não comeis do fruto proibido”, simples assim, mas não para Eva. Nascia ali a insatisfação.

A analogia bíblica enfatiza um dos momentos históricos onde podemos entender melhor nossa natureza compulsiva. Diante do contexto publicitário e midiático cada vez mais apelativo à necessidade de gerar satisfação, como Eva nós estamos envoltos a situações de escolhas pré motivadas, sem julgamentos próprios e com intenções camufladas por quem as oferece.

Não há mundo perfeito a própria história nos prova isso, incontáveis situações como vida financeira descontrolada, relacionamentos não duradouros, profissões indesejadas acumulam uma serie de descontentamentos que geram a insatisfação, a insatisfação quase sempre nos leva ao consumismo, o marketing tem como vertente que “a transformação do supérfluo em necessidade, faz com que o homem mata ou morra por isso”. E de fato muitos matam não no sentindo estrito da palavra, mas matam a oportunidade de contemplar a vida em sua totalidade, a efemeridade somada ao hedonismo resulta em buscar um prazer não duradouro como propósito de vida, podemos dizer que a síndrome de insatisfação que nos consomem é a mesma que motivou Eva ao seu infortúnio.

A síndrome de Eva começa no momento em que seu paraíso torna-se comum, instigada pelo mal que nos assola, um desejo incontrolável toma conta de si e a deixa refém de seu anseio, uma vez impulsionado os riscos e consequências não são medidos, tornam-se inerentes.

Este é um dos males que afligem a sociedade contemporânea, pois o estimulo baseia-se em ter aquilo que não possui. Tal vício tem tornado pessoas infelizes sem propósitos práticos, entendendo o conceito de felicidade como um estado de satisfação, a busca cega por satisfação momentânea tem tirado o brilho dos aspectos maravilhosos do dia a dia, pense quão maravilhosos eles são: cultivar amizades com pessoas que são praticamente da sua família por que você escolheu e quis que elas fossem assim tão próximas, sentir carinho por alguém e presenciar a transformação deste sentimento em algo maior, acordar cedo podendo dormir até um pouquinho mais tarde (sorte de poucos), e ainda viver com tantos desafios e poder ter a oportunidade de enfrentá-los de igual para igual, esses momentos meus queridos são únicos.

Saber distinguir entre essas relações é a chave para uma vida mais coerente, refletir nas escolhas e se aprimorar com as experiências são meios para amenizar tal doença, pois a cura deste aspecto humano ainda não foi encontrada. A história de Eva termina em uma vida desolada fora do paraíso, sacrificada pelo trabalho árduo agora incessante, com seus deslumbres ao chão devido à escolha mal avaliada, agora ainda mais insatisfeita por perceber que já não era tão bela, tão perfeita, tão Eva.

Por: Lucas Henrique Ramos dos Santos

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