27/03/2024

Abrindo Espaço para a Ansiedade


Ansiedade, essa palavra muitas vezes nos remete a algo que queremos evitar a todo custo. É um sentimento que surge no nosso íntimo, muitas vezes nos deixando desconfortáveis e ansiosos para que desapareça. Na realidade, a ansiedade é uma resposta natural do nosso corpo, uma espécie de alarme interno que soa quando percebemos um perigo. Ela está intrinsecamente ligada à nossa evolução e sobrevivência, uma ferramenta que nos ajuda a identificar e reagir a ameaças.

No entanto, há uma outra face da ansiedade que muitas vezes ignoramos. Ela também surge nas situações que mais nos importam, nos momentos em que nos arriscamos por algo que realmente valorizamos. Seja ao enfrentar uma nova oportunidade, expressar sentimentos ou até mesmo ao tentar algo desconhecido, o risco percebido pode desencadear essa sensação de alerta. A ansiedade, neste contexto, é um sinal de que estamos saindo da nossa zona de conforto, avançando em direção ao que realmente tem significado para nós.

Contudo, quando tentamos silenciar essa ansiedade a todo custo, podemos estar nos privando de experiências valiosas. Ao evitar os riscos e desafios que naturalmente provocam ansiedade, podemos estar também nos afastando das partes mais ricas e gratificantes da vida. É um paradoxo: ao tentar nos proteger da dor e do desconforto da ansiedade, podemos acabar nos distanciando de oportunidades de crescimento, alegria e realização. Entender a ansiedade não como um inimigo, mas como um sinal, pode ser o primeiro passo para abraçarmos mais plenamente a vida com todas as suas nuances.

“NÃO PERMITA QUE SUA ANSIEDADE O CONTROLE. PERMITA-SE CONTROLAR SUA ANSIEDADE.” – ZIG ZIGLAR

Quando falamos em terapia para ansiedade, muitas pessoas imaginam que o objetivo é simplesmente se livrar desse sentimento. No entanto, a realidade é um pouco diferente. A meta principal da terapia de ansiedade não é eliminar a ansiedade, mas sim aprender a conviver com ela de uma maneira saudável. O mais eficaz é entender como abrir espaço para a ansiedade em nossas vidas, sem que ela nos domine.

Parece complicado, e realmente é. Um dos maiores desafios da ansiedade é a forma como ela nos prende, nos fazendo acreditar que não somos capazes de enfrentar os desafios ou lidar com nossos sentimentos internos. A ansiedade frequentemente nos convence a reduzir nossos espaços e nossas vidas, buscando uma falsa sensação de segurança e conforto. É como se, tentando evitar a ansiedade, acabássemos limitando nossas próprias experiências e possibilidades.

O processo de terapia envolve, portanto, aprender a aceitar a presença da ansiedade, reconhecendo-a como uma parte normal da experiência humana. Isso não significa que temos que gostar dela ou se sentir confortáveis com sua presença, mas sim entender que ela é apenas um aspecto de nossas vidas, não o definidor de toda a nossa existência. Aprender a conviver com a ansiedade nos permite tomar decisões e agir de acordo com o que realmente valorizamos, em vez de reagir automaticamente ao medo e ao desconforto que ela pode trazer.

“A MAIOR ARMA CONTRA O ESTRESSE É NOSSA CAPACIDADE DE ESCOLHER UM PENSAMENTO AO INVÉS DE OUTRO.” – WILLIAM JAMES

Criar espaço para a ansiedade é um processo que começa com a desaceleração e o autoconhecimento. Imagine que você está em uma situação que desencadeia sua ansiedade. Você pode começar notando as reações físicas: seu coração acelerando, as mãos suando, a leveza na cabeça, ou até mesmo uma sensação de formigamento pelo corpo. É o momento de reconhecer e nomear o que está acontecendo: “Estou ansioso(a) ou nervoso(a) agora”.

A próxima etapa é abordar esses sentimentos com compaixão, como se você estivesse falando com seu eu mais jovem ou com um filho. Diga a si mesmo: “Sim, é preciso coragem para estar aqui e fazer isso agora”. É um processo de validação dos próprios sentimentos, reconhecendo que é normal e aceitável sentir ansiedade em determinadas situações.

Outro aspecto importante é perceber como nossa mente pode ser crítica. Ela pode nos inundar com pensamentos negativos como “Você ainda está ansioso com isso?”, “Outras pessoas não têm tantos problemas assim”, “Por que você é tão sensível?” ou “Você não consegue fazer isso”. Esses pensamentos são histórias dolorosas que contamos a nós mesmos e é essencial aprender a respondê-los com compaixão. Em vez de se repreender, experimente tratar-se com a mesma gentileza e compreensão que ofereceria a alguém que ama.

Em resumo, abrir espaço para a ansiedade envolve reconhecer e aceitar suas manifestações físicas e emocionais, e então tratar-se com a compaixão e a gentileza que você merece. Este processo não é sobre suprimir ou ignorar a ansiedade, mas sobre aprender a conviver com ela de uma forma mais saudável e construtiva.

“A ANSIEDADE NÃO ESVAZIA O AMANHÃ DE SUAS TRISTEZAS, MAS APENAS ESVAZIA O HOJE DE SUA FORÇA.” – CHARLES SPURGEON

Decidir como queremos agir em momentos de ansiedade é uma escolha poderosa que todos temos. Significa identificar o que é mais importante para nós naquele instante, definir como queremos nos comportar, e então nos esforçar para agir de acordo com esses valores. É importante lembrar que não podemos escolher se vamos ou não sentir ansiedade, mas definitivamente podemos escolher como vamos reagir a ela, tanto em relação a nós mesmos quanto aos outros.

Por exemplo, ir ao médico para um check-up anual é uma forma de cuidar da própria saúde. Mesmo ansioso, você pode escolher se apresentar de forma assertiva, compassiva, atenta e grata. Essa é uma maneira de honrar o valor que dá à sua saúde, apesar da ansiedade que a situação possa provocar.

Ou talvez você decida doar sangue, enfrentando um medo de agulhas, como uma forma de contribuir com a comunidade. Nesse caso, pode escolher se apresentar como uma pessoa aberta, corajosa e disposta, agindo de acordo com o valor da solidariedade e do enfrentamento de medos pessoais.

Outra situação pode ser viajar de avião para o funeral de um ente querido. Aqui, você escolhe se mostrar conectado, compartilhando amor e luto com a família, valorizando a importância dessas relações.

Entrar em um aplicativo de namoro e ir a um primeiro encontro pode ser um momento para se mostrar brincalhão, gentil e autêntico, valorizando a oportunidade de conhecer alguém novo e ser verdadeiro consigo mesmo.

Ou, talvez, dirigir um carro para alcançar independência, escolhendo se apresentar como uma pessoa determinada e perseverante, valorizando a autonomia pessoal.

Em cada um desses exemplos, a escolha da ação e as qualidades que desejamos manifestar são fundamentais. E, mesmo que as coisas não saiam exatamente como planejado ou esperado, é importante ter compaixão por nós mesmos e entender que o mais importante é o esforço e a intenção por trás das nossas ações. É nesse processo que aprendemos a viver com a ansiedade de uma maneira mais positiva e construtiva.

Ao criarmos espaço para a ansiedade, sem lutar contra ela ou nos culpar por senti-la, abrimos caminho para uma experiência mais rica e complexa, onde a ansiedade pode coexistir com alegria, conexão, amor ou orgulho. Essa abordagem não significa ignorar a ansiedade, mas aceitá-la como parte de uma gama mais ampla de emoções humanas.

Mesmo para terapeutas especializados em ansiedade, há situações que ainda causam ansiedade, e talvez sempre causarão. No entanto, a questão de se essa ansiedade desaparecerá completamente não é mais tão relevante. O importante é saber que pode-se continuar agindo apesar dela. Às vezes, o simples fato de a ansiedade aparecer e eu continuar presente é o que torna a experiência significativa.

Essa escolha de ser corajoso e vulnerável permite, quando não estamos presos na tentativa de escapar da ansiedade, criar espaço para perceber e, às vezes, saborear outras emoções que estamos sentindo. Muitos dos momentos mais significativos e importantes da minha vida aconteceram logo após sentir uma quantidade quase avassaladora de ansiedade e, mesmo assim, escolher estar presente. Na perspectiva da Terapia de Aceitação e Compromisso, sentimos dor onde nos importamos. E se importar é algo que não buscamos eliminar; por isso, abrimos espaço para a dor e a ansiedade.

Aceitar a ansiedade como uma parte válida de nossas experiências nos permite vivenciar uma gama mais ampla de emoções, muitas vezes levando a momentos profundamente significativos e enriquecedores. É essa aceitação que nos dá a liberdade de experimentar plenamente a vida, com todas as suas nuances e complexidades.

Ao invés de lutar para eliminar a ansiedade, devemos aprender a conviver com ela, criando espaço para que coexista com outras emoções em nossa vida. Esse processo não é isento de desafios, mas está repleto de oportunidades para crescimento pessoal, autoconhecimento e, acima de tudo, aceitação.

A ansiedade não precisa ser um bloqueio intransponível. Ela pode ser um convite para explorarmos as profundezas de nossa própria humanidade, compreendendo nossos medos e aspirações. Que este artigo seja um ponto de partida para você se conectar mais profundamente consigo mesmo e com os outros, lembrando sempre que, no coração da ansiedade, pode residir a chave para uma vida de significado e propósito.

Fonte: Center for Anxiety and Stress Management

Fonte: Humannia











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