04/03/2024

Mulheres Oceano: Mergulhem no Sentir, Despertem o Ser


“Mulheres oceano são a imensidão e a profundidade de alma, o amor, as bênçãos e a cura, a raiz e a flor, a luz e a sombra, o dia de sol e a noite de luar. Por isso, mulheres oceano não cabem em poça d’água. Até nos darmos conta disso, até alinharmos o que está nas nossas profundezas, até harmonizarmos nossas águas interiores, podemos nos afogar em águas rasas. 

Muitas, pelo medo da rejeição e do abandono – medos universais cuja raiz geralmente envolve um trauma ou vazio infantil – estão imersas em relacionamentos sem amor, em trabalhos sem paixão, em parcerias sem confiança e afeto, em propósitos e objetivos sem sentido, sem sentir. O sentir se perdeu no caminho, tornou-se um tesouro perdido em algum lugar dentro de si. 

A sua pele de alma ficou para trás, esquecida e ressequida em algum lugar que ela já não se lembra mais de quem é, o que é ser ela mesma, o que é ter tempo para si, para silenciar e cuidar-se, amar-se e nutrir-se, apaixonar-se por quem é, por saber que em si habita uma unicidade. Não significa ser melhor que outrem, mas ser única como é, nas suas potencialidades e nas suas vulnerabilidades, nas suas expressões e expansões, nas suas introspecções e silêncio. 

Ela esqueceu da sua essência porque assumiu o papel de “mãe eterna”, uma eterna mãe de todos com alimento infinito a ser doado, até mesmo o que deveria ser para si é doado para outro, um movimento de doar e doar, mas dificilmente de receber. No livro Mulheres que correm com os lobos, Clarice nos diz para usarmos “sutiãs de lata” – uma ótima analogia – quando nos dermos conta que estamos ocupando demais esta função ou quando nos exigirem demais este papel.

A pele da sua alma está sedenta por receber, uma sede de Ser, de receber do seu próprio ser e do seu movimento de Ser. Receber o amor provindo de si, daqueles que ama e com quem se importa, da vida, dos fluxos de prosperidade e amor que fluem naturalmente quando estamos receptivas, abrindo nossos cálices internos para deixar ir e desapegar do velho, do passado e do que não serve mais; abrindo e enchendo-os de luz da consciência, de vida e de gratidão todos os dias!

Para isso, uma tarefa é necessária: descer fundo, nas profundezas de nós mesmas para abrir as portas que nunca olhamos, para resgatar partes de nós mesmas esperando por nós, para serem reconhecidas e integradas, para encontrar as chaves e abrir as gavetas fechadas no armário dos nossos medos, das nossas verdades ocultas, nos nossos traumas, do que nos bloqueia, trava e sabota. 

Assim, à medida que vamos acessando esses espaços esquecidos e obscuros pela falta da nossa consciência, à medida que vamos levando esta luz até eles, temos a capacidade de reconhecer e liberar o que está contido ali. Damos espaço para que algo novo possa ocupar, algo que estamos comprometidas a transformar e evoluir em nós, algo bonito, valoroso e cheio de sentido para retomar o movimento do Ser, muito além do ter. 

A descida não é rápida, mas necessária para que possamos renascer mais fortes, mais sábias, mais empoderadas, mais livres de padrões e crenças que nos limitam, libertas das amarras da ilusão que nos vendavam os olhos. Nesta etapa, somos um botão de rosa ainda a desabrochar, tendo que reconhecer os nossos espinhos e com eles os nossos limites, as nossas dores, as nossas fragilidades e fraquezas, os nossos bloqueios e vazios emocionais. Somos rosa, somos espinhos. 

Quando soubermos aceitar que uma rosa precisa dos seus espinhos para existir – são parte dela – então estaremos no caminho do auto-amor, da auto-aceitação, do autocuidado, da autorresponsabilidade. Estaremos no caminho para receber todas as bênçãos e tudo o que é nosso por direito divino, o propósito que nos foi destinado.

Compreendemos que não precisamos usar os espinhos para machucar ou ferir, mas sim para nos proteger e preservar, o amor com limite, sabendo reconhecer o que nos nutre, nos centra e nos fortalece acima do que nos diminui, nos coloca para baixo e nos enfraquece. 

A descida para dentro dos nossos oceanos internos nos ensina a ir de encontro aos nossos sentimentos e emoções, a dizer “não” quando necessário. Em contrapartida, nos tornamos muito mais receptivas para dizer “sim” para tudo o que precisamos receber, com mais amor, sinceridade, humildade, compaixão e gratidão. 

Quando de volta à superfície, percebemos quanto poder interior foi desperto e quanta força temos para superar as maiores tempestades, os furacões de mudança que muitas vezes surgem de vários caminhos ao mesmo tempo. Observamos quanta sabedoria interior adquirimos para compartilhar com outras mulheres que passaram ou estão vivenciando o mesmo, e o quanto sentimos um ímpeto enorme de criar, criar e criar! A Vida volta a nos chamar e, desta vez, somos toda ouvidos e coração! Ouvimos, reconhecemos e abraçamos o seu chamado! Voltamos a viver, voltamos a Ser!

À essa altura da jornada, nossa pele da alma já sente-se hidratada de novo, a resgatamos de onde ela estava guardada e esquecida. Essa pele íntegra e integrada à nós representa a liberdade de ser quem somos em essência, de voltar a sentir e a se sentir dentro do movimento harmônico do Ser, só que agora seguindo pelo caminho do coração: a bússola que aponta para o norte da nossa alma e que nos ajuda a não nos perdermos nos labirintos da mente. Somos alma e profundidade, somos coração e sentir, somos luz, criação e Ser, somos mulheres oceano.”

Por Luciane Strähuber – Consultora e Terapeuta Integrativa com foco no trabalho e resgate do Feminino Sagrado.

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