Médium de si mesmo.
Os que militam na seara espírita, principalmente em reuniões mediúnicas, deparam-se com algo que a princípio não sendo um problema, tornaram-no um problema quase que generalizado.
A inquietante dúvida: animismo ou mediunidade?
Como já ensinara o codificador da Doutrina Espírita, a alma do médium pode se comunicar como a de qualquer outro; se ela goza de um certo grau de liberdade, descobre suas qualidades de Espírito. É como se o encarnado passasse a ser médium de si mesmo, conforme registrou também Hermínio C. de Miranda em Diversidade dos Carismas II: "...o sensitivo pode ser médium de si mesmo, ou seja, transmitir uma comunicação anímica e não espírita".
No entanto, a ignorância sobre o assunto tem gerado medo e insegurança em inúmeros médiuns com possibilidades maravilhosas de serviço. Eles não conseguem se libertar da dúvida a respeito da origem das correntes de pensamentos que lhe afloram da mente, e isso tem se tornado um problema causador de improdutividade em alguns médiuns. Agem como se a qualidade e a utilidade da mensagem dependessem dessa certeza.
Não há razão para tal insegurança quando sabemos que numa comunicação entre encarnados e desencarnados, mediunidade e animismo são fenômenos inseparáveis. Em vez de rejeitar uma comunicação pelo simples fato de ser resultado de uma interação anímico-mediúnica, será muito mais sensato submetermos a mensagem a uma análise de conteúdo, e o bom senso nos responderá se devemos ou não aceitá-la. Não olvidemos que o importante não é a exclusividade da fonte da mensagem (se do encarnado ou do desencarnado), mas sim a coerência doutrinária e a utilidade. Se contribui para o enriquecimento intelectual ou moral não há por que rejeitá-la.
Na tentativa de sermos entendidos pelo leitor, tomemos como exemplo o processo inverso - < fenômeno anímico sob a influência mediúnica: Consideremos um palestrante que prepara o roteiro para a palestra, e através de cuidadosos estudos arquiva em sua memória os conteúdos indispensáveis. A princípio podemos afirmar que a palestra é um fenômeno anímico, se realizada apenas com recursos mentais do encarnado. Mas, quando o palestrante inicia a palestra, o espírito designado para inspirá-lo gradativamente estabelece a sintonia mental e sutilmente vai sugerindo idéias que são aceitas, sem que provoque alteração objetivo da palestra, e desta forma o conduz naturalmente a melhores resultados.
Neste caso, devemos avaliar palestra como inadequada, por sofrido influência de um desencarnado? O bom senso nos responde que não! Assim também com participação anímica na comunicação mediúnica.
Em 0 Livro dos Médiuns, A Kardec estabeleceu a crítica a regra para a aceitação ou rejeição uma comunicação. Submetamos ao crivo da crítica, e com base nos princípios estabelecidos pela Doutrina Espírita, concluiremos se a comunicação deve ou não ser aceita. Também na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, dissertando sobre o controle universal do ensino dos espíritos, ele afirmou:
"O primeiro exame comprobativo é, pois, sem contradita, o da razão, ao qual cumpre se submeta, sem exceção, tudo o que venha dos Espíritos. Toda teoria em manifesta contradição com o bom senso, com uma lógica rigorosa e com os dados positivos já adquiridos, deve ser rejeitada, por mais respeitável que seja o nome que traga como assinatura."
Desta forma podemos dizer que já temos a vacina para a dúvida doentia: não importa a assinatura nem tampouco a origem da mensagem, se do encarnado ou do desencarnado. Porém se esta contradiz o bom senso, a lógica rigorosa e os dados positivos, já adquiridos, deve ser rejeitada. Não esqueçamos que o encarnado tanto quanto o desencarnado mantém nos arquivos da memória, embora de forma inconsciente, conhecimentos adquiridos em outras encarnações, e pelo fato de se encontrar no corpo físico não quer dizer que os tenha perdido ou que estes tenham de ser rejeitados. Portanto, não vemos motivo para preocupação com relação ao animismo de forma generalizada, mas sim, ao animismo nocivo.
Em nossa experiência como colaborador, há algumas décadas, nas reuniões mediúnicas de várias casas espíritas, conhecemos médiuns impressionáveis que favoreciam a um exagerado animismo e outros que sem o mínimo de responsabilidade, ou compromisso com a mediunidade, mistificavam para atender a interesses próprios.
Para tais casos, o dirigente deve usar de muita habilidade para realizar de forma fraterna, porém com determinação, a orientação necessária, persuadindo-os de que o estudo e educação da mediunidade não prescindem da oração e da vigilância; como nos advertiu Jesus: Orai e vigiai para não cairdes em tentação.
F. Altamir da Cunha
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