Geralmente, ao pensarmos no inconsciente freudiano, imaginamos uma parte da mente onde se encontram aqueles desejos que consideramos proibidos.
Ora, essa não é uma imagem falsa, mas é incompleta.
De fato, o inconsciente é uma dimensão do psiquismo que abriga aquilo que a gente quer, mas não consegue admitir que quer.
Todas aquelas suas fantasias “indecorosas”, mas profundamente satisfatórias, estão lá, alimentando sintomas e inibições, já que não podem ser reconhecidas.
Todavia, nem só de desejos reprimidos vive o inconsciente.
Os elementos que provocam a repressão, ou seja, autojulgamentos morais, também podem estar lá.
Freud expressou essa descoberta, em seus próprios termos, lá no início da década de 1920, ao dizer que grande parte do superego é inconsciente.
Superego foi o nome que Freud deu pra essa voz moral que vive dentro da gente — e que nasce, principalmente, das broncas, censuras e lições que ouvimos na infância.
Ora, eventualmente, a gente percebe essa dimensão moral em ação, quando, por exemplo, nos condenamos por ter feito algo ou censuramos certos desejos.
Porém, muitas vezes, o superego opera silenciosamente, de forma inconsciente, e nós só temos acesso aos “produtos” dessa atividade.
É o que acontece, por exemplo, quando não sabemos porque nos sentimos culpados ou quando nos flagramos em um franco processo de autossabotagem.
Se seu superego detecta que você fez (ou desejou fazer) algo que vai contra as suas próprias convicções morais, ele pode, muito bem, levá-lo a se punir.
Sim! Conscientemente você pode estar lá, de boa, mas, inconscientemente, pode estar se condenando severamente — e implorando para ser punido.
Aí, de repente, você percebe que está se boicotando, se prejudicando e não entende o motivo.
Parece até puro masoquismo, mas é só você se punindo sem saber…
A Psicanálise, portanto, não descobriu apenas que os seres humanos são mais “safados” do que nossa tradição hipócrita nos levou a pensar.
Ela mostrou também que, no fundo, até o mais liberal entre nós carrega um pequeno moralista escondido — pronto pra julgar, censurar… e punir.
Lucas Nápoli
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