01/04/2025

O ANJO NEGRO


E, então, no meio de uma multidão algo caiu com tanta intensidade que causou um deslocamento de ar que a todos derrubou. E, junto havia uma luz tão forte que cegou a todos momentaneamente, além de causar ânsia e vômitos em alguns e diarreia a outros, e, para muitos uma comoção e, outros, um pavor que era difícil de entender. Era como se um raio caísse num lago e o secasse de tão forte e intenso. E, do meio de tudo aquilo surgiu um ser negro, poderíamos chamar de anjo negro, pois parecia em tudo com aqueles que os homens estavam acostumados a apreciar em todo lugar...

Sua beleza era estonteante. Seus dentes perfeitos. Forte. Com grandes asas em suas costas. Olhos azuis e cara de poucos amigos. Então, no meio da multidão pegou um homem, ou seria uma mulher, não sei estava um pouco longe, mas o levou ao palco, onde havia um show que, naquele momento estava totalmente em silêncio. Ele falava, mas não havia som, embora todos entendessem, compreendiam e tanto fazia estar na frente quanto nos fundos, ouvia-se da mesma forma. Parecia o próprio trovão. 

Ele pegou o homem pelas costas, estava inerte, o elevou e, começou a falar: “Este que vês, é um marginal, um maldito e a desgraça da raça. Lascivo, beberrão, maledicente, vagabundo, vaidoso, soberbo, briguento, não colabora, reclama e não quer compromisso”. 

E, enquanto falava, girava aquele homem para que todos vissem, e, numa virada ou outra, para espanto geral aquele homem se transformava em mulher, depois numa velha, menina, velho, homem, criança... E continuou a falar: “Este que bebe e gosta de bar, vai continuar e, assim, será a vergonha para si e sua família, será motivo de brigas e discórdias”

“Esta vaidosa e soberba, sempre será assim e, vai pensar em si mesma e, um dia será a vergonha para si e sua família, será motivo de brigas, intrigas e isolamentos”

“Estas pessoas um dia, e, será mais rápido que imagina, e ficarão sozinhas, embora sempre estivessem, mas, antes, ainda tinham alguma saúde e beleza, mas isso o tempo se encarrega de levar e, junto vai também a saúde e a beleza e, assim perderá a coisa mais importante, embora não se perceba, seu sono. Terá insônia e, então não poderá mais dormir de tantos cadáveres que deixou em seu caminho, de tantas viúvas e órfãos. Se tornou um meliante e, meliantes não dormem, não enquanto não forem julgados, mas há tantos e, não há coisa mais angustiante e que tira o sono de qualquer um do que esperar o julgamento”

E o anjo negro, que mais parecia uma mulher, parou de falar. O silêncio era amedrontador. Muitas pessoas perderam a cor ou caiam, pois suas pernas não suportavam seu peso. 

E, continuou: "Os tempos estão chegados! Torçam para que não caia num final de semana ou feriado. Um será levado e outro deixado, muitos ficarão”

E, da mesma forma que chegou, partiu!

E, naqueles dias dançavam, comemoravam, casavam, tinham filhos, se divertiam, brigavam, separavam, viajavam, delegacias, fóruns, advogados, hospitais. Um médico após uma cirurgia difícil... “Pode fechar! Não há nada que se possa fazer. Tão jovem. É a vida”

Ei você! Quem, eu? Sim, você que bebe, ou então você que é lascivo, ou então você que engana as pessoas, ou então você que trabalha em demasia, ou você que é sovina, ou você pródigo, ou quem sabe você que não dorme, ou então você, neste asilo, esperando a morte, ou talvez você com esta doença terminal... O que acham?

Pois é, acho que somos replicadores de NADAS. Mas, também, o que há após a morte que não o NADA? Então se preocupar com o quê? Todos morrem mesmo?

E aquele anjo negro ainda deixou um recado: “Todos morrem, é um fato, mas a semente também, e, todos sabem o que acontece depois, mas, claro, tem que ser uma boa semente e o terreno mais ainda"

Alias, como anda sua semente?

E como anda preparando seu terreno?

Ernani Leal Paula

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