O trauma é uma ferida que nem sempre sangra — mas o corpo lembra. Essa é uma das principais revelações do psiquiatra Bessel van der Kolk, autor do influente "The Body Keeps the Score". Sua pesquisa mostra que experiências traumáticas não são apenas lembranças difíceis: elas são impressões somáticas que moldam comportamentos, sensações e a forma como enfrentamos a vida.
No campo da neurociência, o trauma é compreendido como uma disfunção nos sistemas de regulação emocional e memória, afetando estruturas como a amígdala (centro do medo), o hipocampo (memória contextual) e o córtex pré-frontal (tomada de decisões). Mas o corpo, longe de ser apenas consequência, é também lugar de resistência — e de possibilidade de reconfiguração.
🧍♀️ Corpo como Campo de Batalha e Cura
Segundo van der Kolk, o trauma rompe o senso de segurança corporal. Pessoas traumatizadas frequentemente experimentam:
- Hipervigilância constante
- Sensações físicas desconectadas da emoção
- Despersonalização e dissociação corporal
- Dificuldade em confiar em si mesmas e no outro
Mas o corpo também pode ser o terreno da recuperação. Terapias somáticas, como yoga terapêutico, respiração consciente e EMDR, ajudam o cérebro a reprocessar memórias traumáticas com base em respostas físicas seguras.
> Persistir não é seguir em frente ignorando o que doeu. É reconhecer a dor, criar espaço para ela, e mesmo assim dar passos em direção à vida.
🔄 A Persistência Emocional: Reconfigurar com Consciência
Trauma não é apenas aquilo que aconteceu — é o impacto contínuo do que não foi processado. A persistência emocional nasce quando conseguimos:
- Nomear e validar sentimentos internos sem julgamento
- Cultivar práticas que reativem a segurança interna
- Reescrever narrativas com acolhimento e verdade
A neurociência mostra que a plasticidade cerebral permite, mesmo em cérebros afetados pelo trauma, a formação de novos circuitos — especialmente quando experiências emocionalmente corretivas são repetidas com intenção e cuidado.
🛠️ Exercícios Práticos para Reintegração Corpo-Emoção
1. Escaneamento Corporal Matinal
Ao acordar, feche os olhos e percorra o corpo mentalmente: onde há tensão? Onde há silêncio? Isso fortalece a conexão mente-corpo e reduz dissociação.
2. Diário Somático
Registre emoções e sensações físicas que surgem em momentos de desafio. Note se há padrões. Aprender a mapear sensações é o primeiro passo para reprogramar respostas.
3. Respiração de Ancoragem
4 segundos de inspiração – 4 segundos de retenção – 6 segundos de expiração. Esse ritmo ativa o sistema nervoso parassimpático, promovendo calma e presença.
4. Cartas de Perdão ao Corpo
Escreva para partes do seu corpo que você negligenciou, culpou ou ignorou. Restaure o vínculo com ele como aliado e não como inimigo.
5. Microatos de Escolha
Durante o dia, escolha conscientemente pequenos gestos: beber água, alongar-se, dizer “não”. Cada ato reforça autonomia — vital em processos de cura.
🧩 Trauma Como Portal, Não Prisão
A dor deixa marcas. Mas a persistência é a arte de ressignificar o que nos moldou sem perder a essência. O corpo guarda os traumas — mas também guarda a possibilidade da transformação. Com práticas conscientes e coragem emocional, cada sensação pode se tornar parte de uma nova narrativa.
Como diria van der Kolk:
> “A cura está em aprender a viver no presente, sem ser refém do passado que o corpo ainda carrega.”
Consciência que Cura
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