Vivemos em um tempo onde as ideias nos alcançam com mais velocidade do que somos capazes de assimilá-las conscientemente. Redes sociais, doutrinas espirituais, movimentos sociais, teorias de salvação e gurus carismáticos oferecem, todos os dias, algum tipo de “resposta” para as dores humanas. Mas o que acontece quando uma dessas ideias entra na psique como quem não quer nada — e se aloja em um ponto vulnerável do nosso ser?
Essa reflexão parte de um conceito simbólico: nossa psique como uma mandala. Assim como as mandalas tradicionais representam um sistema ordenado em torno de um centro, nossa estrutura interna também se organiza em torno de eixos e posições arquetípicas — o herói, a mãe, o sábio, o inocente, a sombra, o amante, entre outros. Quando essas posições estão bem ocupadas e reconhecidas, sentimos uma certa coerência existencial. Mas basta que um desses pontos esteja fragilizado ou inconsciente para que nos tornemos vulneráveis a influências externas disfarçadas de “respostas salvadoras”.
A Isca Simbólica
Imagine alguém com uma ferida profunda relacionada ao abandono. Essa pessoa, sem perceber, está com o arquétipo do cuidado (geralmente associado ao materno ou ao autoacolhimento) desocupado ou distorcido. Surge então uma seita, um líder espiritual ou mesmo um movimento ideológico que promete “amor incondicional”, “pertencimento” ou “uma nova família”. A proposta parece curativa. E talvez seja — em parte.
Mas junto com essa promessa, vem um pacote simbólico completo: uma nova moralidade, uma cosmovisão, uma hierarquia, um “nós contra eles”, uma entrega de autoridade. O que parecia ser apenas uma crença isolada — uma ideia simpática — era, na verdade, um cavalo de troia psíquico. Não entra só uma ideia; entra um sistema inteiro.
Esse fenômeno é semelhante à hipnose. Uma suspensão temporária da vigilância da consciência crítica permite que conteúdos externos passem a ocupar as posições internas da mandala. Aos poucos, a pessoa já não distingue mais o que é dela e o que foi implantado. Sua mandala foi colonizada.
Marco Moura
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