30/11/2025

Corpos esculpidos, mentes destruídas


Tem gente acordando às 5h da manhã pra correr da própria culpa. Levanta, toma água com limão, faz jejum intermitente, 45 minutos de HIIT, suplementa com colágeno hidrolisado, respira fundo, tenta meditar, grava story com frase de impacto e ainda sorri com aquele ar de quem está pleno. Só que por dentro… o caos reina. Virou regra: ser saudável hoje exige um planejamento mais complexo que abrir uma empresa. Tudo tem que estar na planilha: treino, sono, calorias, gratidão, pausa pra meditação. E se faltar alguma coisa, lá vem ela — a culpa, vestida de fracasso. Ninguém pode só... viver. Comer um pão com manteiga na padaria da esquina, por impulso, virou pecado. Pular um treino? Vergonha. Tomar uma cerveja na terça? Crime hediondo. Enquanto isso, lá atrás, os avós não faziam ideia do que era ômega 3. Nunca ouviram falar em índice glicêmico. E mesmo assim, consertavam cerca, cozinhavam com banha e deitavam na rede depois do almoço com a cabeça tranquila. Não tinham personal, mas tinham rotina. Não tinham fitwatch, mas tinham sentido. A geração atual é a que mais fala de autocuidado — e a que menos consegue se cuidar de verdade. Porque está sempre correndo atrás de uma meta inalcançável, imposta por um algoritmo disfarçado de guru. O resultado? Corpos esculpidos, mentes destruídas. E uma saúde mental em colapso, sufocada entre o chia e o crossfit. É o paradoxo moderno: quanto mais se tenta viver bem, menos se vive. Ser saudável virou performance. Virou produto. Virou prisão. E o mais trágico disso tudo? A cela foi construída com tijolos de boas intenções — e trancada com cadeado de autoexigência. Talvez esteja na hora de desmarcar o personal e tomar café com alguém querido. De comer um pedaço de bolo sem contar a caloria. De rir sem precisar postar. Porque viver bem… não é sobre controle. É sobre leveza. E a verdadeira saúde? Começa quando a cabeça respira.

Willians fiori 

 

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