Muitas vezes nos vemos voltando aos mesmos lugares, escolhendo as mesmas pessoas ou reagindo com os mesmos padrões que, no fundo, já sabemos que vão doer. E, mesmo assim, repetimos. Não por fraqueza, mas porque algo dentro de nós ainda busca ser compreendido, elaborado e curado.
Na psicanálise, chamamos isso de repetição compulsiva, um movimento inconsciente em que tentamos, de forma simbólica, resolver uma dor antiga. Não repetimos porque queremos sofrer, repetimos porque a psique tenta recriar a cena original para, dessa vez, encontrar uma saída diferente. É como se o inconsciente dissesse: “volte lá, há algo que ainda não foi dito.”
Do ponto de vista da neurociência, esses ciclos também acontecem porque o cérebro é uma máquina de familiaridade. O que é conhecido mesmo que doloroso ativa circuitos já estabelecidos. O desconhecido, mesmo que melhor, aciona o alerta. Assim, padrões emocionais antigos funcionam como “trilhas neurais” que se repetem automaticamente. A mudança exige energia, consciência e novas conexões.
Espiritualmente, a repetição pode ser compreendida como um chamado de evolução. Cada padrão que retorna é um mestre disfarçado, apontando para feridas que pedem luz. O que se repete, insiste. E o que insiste, revela o caminho de libertação.
Repetimos o que nos machuca porque, em algum nível profundo, ainda esperamos um desfecho diferente. Porque buscamos reencontrar nossa força onde ela foi perdida. Porque o corpo emocional tenta cicatrizar o que ficou aberto.
A cura começa quando deixamos de nos culpar e passamos a nos observar. Quando entendemos que o padrão não é o inimigo, mas um mapa para dentro. E, ao acolhermos essa parte ferida com verdade e presença, o ciclo finalmente encontra descanso.
A repetição termina quando a consciência começa.
Texto por: Psicanalise Inconsciente

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