Todos os dias são recomeços, embora possamos até pensar que a tristeza e o pranto são intermináveis, tudo passa e os dias se modificam.
Viver é imprescindível, respirar o ar fresco na janela da cozinha ao nascer do dia, enquanto muitos dormem.
Receber o caloroso "bom dia!" do cachorrinho ainda quente do seu abrigo noturno, se esticando todo num lindo espreguiçar.
O espelho como sempre mostra que o tempo está passando velozmente e vai deixando rabiscos em nossas faces e lapidando em nós novas formas e expressões.
A música de ontem já não chega mais à vitrola abandonada e esquecida, muda, ultrapassada.
Os gestos aos poucos perdem a agilidade da infância longínqua, é como se vivessemos sempre em câmera lenta.
Até os gostos se modificam à mesa do café da manhã e alimentar a carne deixa de ter importância.
O aconchego vem do velho casaco amarelo, companheiro de muitos invernos, que nos abraça sem demora num ato de total proteção.
Seguimos adiante como eternos rios indo em direção ao mar, não podemos retornar às nascentes frescas e cristalinas.
Aos poucos nos fragmentamos, esquemos até mesmo, quem somos e passamos a vegetar silenciosamente como a folhagem plantada no vaso improvisado.
Vivemos em intermináveis ciclos como os círculos bordados na cabeceira da cama que nos nina enquanto dormimos e sonhamos mais um sonho bonito.
Cirlei Fajardo
😍🌹🦋😊
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