Quando eu falo de Umbral, não estou falando de “inferno” com demônio e tridente. Eu estou falando de um campo mental coletivo onde ficam presos os restos de trauma, culpa e crenças distorcidas da própria consciência.
Muita gente imagina o Umbral só como lugar de “sofrimento de quem foi ruim”. Na prática, o que vejo em trabalho espiritual é outra coisa:
consciências que não conseguem sair dos próprios roteiros. Elas repetem discussões, medos, cenas de abandono, ciúme, injustiça… como se a vida tivesse travado num pedaço específico da história. O ambiente se molda a isso. O lugar vira a cara do conflito interno.
Existem zonas em que a alma não percebe que morreu. Ela continua tentando pagar dívidas, salvar família, proteger casa, controlar tudo. O corpo já não está mais ali, mas a mente continua operando no modo sobrevivência. Esse estado é tão denso que vira “chão”, “parede”, “cidade” dentro do Umbral. Sim: muita estrutura umbralina é construída com memória emocional congelada.
Também há regiões onde a pessoa se confunde com os personagens que criou: vítima eterna, salvador, mártir, juiz moral. Quanto mais ela se agarra a esse papel, mais alimenta os sistemas que controlam o lugar. É por isso que culpa, medo e fanatismo religioso são moedas fortes no Umbral: eles mantêm a consciência girando, sem questionar quem escreveu o contrato.
O ponto principal é: o Umbral não é só “castigo divino”.
É um mecanismo de controle que usa aquilo que já está dentro da pessoa – traumas, crenças, vergonhas – para segurar a alma num looping. A saída começa quando a consciência entende que não é obrigada a continuar assinando o mesmo papel, nem aqui, nem do outro lado.
É desse ângulo que eu estudo e trabalho esse tema: menos terror, mais lucidez. Não para romantizar o Umbral, mas para mostrar que ele é sistema – e sistema pode ser questionado, exposto e, pouco a pouco, desinstalado de dentro pra fora.
Bruno Lacerda
Luz e Consciência

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