O autoconhecimento não é um caminho de luz constante, é uma descida ao porão da própria mente. A psicologia mostra que aquilo que evitamos olhar tende a se tornar sombra, e é justamente essa sombra que mais controla nossas atitudes. Só quando deixamos de querer parecer “bons” ou “evoluídos” é que começamos a entender o que realmente nos move, o que nos fere e o que estamos tentando esconder de nós mesmos.
Na psicanálise, esse mergulho é o encontro com o inconsciente: o território onde vivem os desejos reprimidos, os medos antigos e as vozes que herdamos dos outros. Não há autoconhecimento sem atravessar essa névoa. Ver-se de verdade exige suportar o desconforto de reconhecer que parte de quem somos nasceu da dor e da defesa, não apenas da consciência.
A consciência, por sua vez, é o espaço onde tudo pode ser reescrito. Ela não julga, observa. Quando conseguimos observar o que sentimos sem tentar justificar ou apagar, surge o primeiro sinal de liberdade interna. É nesse ponto que o eu começa a se separar das máscaras e das narrativas que inventou para sobreviver.
Mas esse processo não é linear. A mente tenta nos proteger daquilo que teme, e é por isso que muitas vezes o autoconhecimento dói. É uma morte simbólica de quem pensávamos ser, para dar espaço ao que sempre esteve ali, mas não cabia nas expectativas que criamos.
No fim, conhecer-se é um ato de coragem e humildade. Coragem para encarar o espelho sem filtro, e humildade para aceitar que ainda não sabemos tudo sobre nós. Porque a consciência, quando desperta, não quer perfeição. Quer apenas verdade.
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Bruno Lacerda

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