18/10/2025

Reflexão do Sábado


O vício em pessoas, conhecido como dependência emocional, é um dos mecanismos mais sutis e profundos do cérebro humano. Assim como acontece com o uso de substâncias, o cérebro se acostuma a receber doses de prazer, segurança e validação de uma fonte externa: o outro. Aos poucos, o sistema nervoso passa a associar a presença dessa pessoa à sobrevivência emocional, criando um ciclo de necessidade e abstinência.

No centro desse processo está o sistema de recompensa, comandado pela dopamina, o neurotransmissor do prazer e da motivação. Quando a pessoa amada dá atenção, carinho ou aprovação, o cérebro libera dopamina, criando uma sensação intensa de bem-estar. O problema é que, com o tempo, o cérebro quer repetir essa sensação, e quando o outro se afasta, o nível de dopamina cai bruscamente. Surge então o desconforto, a ansiedade e o medo de perda.

Além da dopamina, a ocitocina (hormônio do vínculo e do apego) reforça essa ligação, especialmente em relações íntimas. Ela faz com que o cérebro associe o outro à segurança e à calma, o que explica por que pessoas emocionalmente dependentes sentem pânico ao imaginar a separação. É uma reação fisiológica, não apenas psicológica.

Com o tempo, a pessoa viciada em um vínculo perde a capacidade de autorregulação emocional. Ela terceiriza o próprio equilíbrio, esperando que o outro a acalme, a valide ou a salve. Esse padrão muitas vezes tem raízes na infância, quando o amor foi condicionado à obediência, à carência ou ao medo de abandono. O cérebro aprende desde cedo que “ser amado” é o mesmo que “ser aceito”, e esse aprendizado se repete inconscientemente na vida adulta.

A cura começa quando o indivíduo passa a reprogramar seu sistema de recompensa, aprendendo a gerar dopamina de fontes internas: autocuidado, prazer genuíno, propósito e conexão consigo mesmo. A dependência emocional deixa de ter força quando o cérebro entende que o amor não precisa vir de fora, mas pode ser cultivado dentro.

A verdadeira liberdade emocional nasce quando o vínculo deixa de ser vício e se torna escolha consciente.

✡️ Emilia Morales terapeuta holistica

Nenhum comentário:

Postar um comentário